Páginas

terça-feira, 25 de outubro de 2016

A angustiante rotina de quem já perdeu alguém



"A saudade é como um cisco no olho impossível de ser tirado. Como aquela etiqueta daquela calça nova impossível de ser arrancada."

No dia em que recebi aquela ligação. No dia em que me deram aquela notícia. No dia que me disseram que você partiu. Aquele dia, eu juro, senti uma parte de mim indo embora junto com você. E senti uma parte invadindo minha vida da forma mais bruta possível.
Não foi fácil aceitar sua partida, muito menos entender. Sempre acreditei que Deus levasse as pessoas mais bondosas primeiro, mas esperava que ele fosse piedoso comigo.
Nos primeiros dias achei que as lágrimas fossem eternas. Tornaram-se parte do meu cotidiano. Tive uma semana em casa, não precisei ir trabalhar, nem estudar. Mas foi duro. A verdade me espancava, a dor era tangível, mas a ficha não caía.
Senti vontade de te ligar, e te contar as coisas. Escutar sua risada rindo das minhas histórias. Senti vontade de te abraçar, e imaginei como seria nosso abraço.
Passei dias e noites imaginando nosso abraço. Seria um daqueles abraços apertados, cheios de saudade, em que não há mais nem um milímetro de distância entre os corpos, mas a alma está ainda mais perto. E o coração já é um só.
Eu senti muita vontade de olhar nos seus olhos. De vê-los brilhando quase sempre. De fazê-los brilhar quando o sempre não funcionava.
Conversava com você como se ainda estivesse aqui, pedia conselhos e perguntava como tinha sido o seu dia. Mas quando eu olhava pro lado e não te encontrava, quando minhas perguntas já não tinham respostas, a minha mão tremia e toda dor voltava.
Foi terrível ter que ir à sua casa depois daquele dia. Pensei que meu estoque de lágrimas tinha acabado até ter que dobrar suas roupas. Eu tocava cada peça como se ainda fosse parte de você. Algumas ainda tinham o seu cheiro e aquelas eu decidi guardar.
E guardei sua coleção de filmes de terror, aqueles que eu mais sentia medo. E tomei a liberdade de assisti-los de novo. Mas dessa vez sem a sua voz me contando o que estava prestes a acontecer.
Dessa vez nem levei susto. Nem sequer prestei atenção.
Fui a sua missa de sétimo dia. Era uma missa comum, mas nessa eles tinham citado seu nome. Rezavam pra que sua alma subisse aos céus e eu repetia que sua alma já era o próprio céu desde que você estava aqui. Os anjos devem ter adorado te conhecer.
E eu queria. Queria que você estivesse aqui pra ouvir aquela música comigo.
Queria viver de novo aquele dia contigo, qualquer dia contigo. Queria ter a oportunidade de te dizer, mais uma vez, que eu amei, amo e sempre vou amar você.
Hoje, eu levo uma vida normal. É o que acontece com aqueles que ficam, né? Permito-me sorrir e te homenagear com as flores mais cheirosas em dias especiais. Tenho uma foto sua no meu guarda-roupa, carrego comigo as lembranças mais bonitas tuas. Falo pra todos o quanto você foi incrível.
Mas a saudade é como um cisco no olho impossível de ser tirado. Como aquela etiqueta daquela calça nova impossível de ser arrancada.
A saudade incomoda, mas faz parte de mim. Gostaria de dizer que já parou de doer, mas a dor é igual. Não muda. E não conta pra ninguém, às vezes ainda vou dormir em meio às lágrimas imaginando que a qualquer momento você bata na minha porta pra me acalmar.
Entre toda a falta que você me faz, te carrego comigo. Você não foi embora de dentro de mim, pelo contrário, se faz presente. Sinto-te perto e sei que estaremos perto um dia.
E então valerá a pena, pois haverão mais histórias pra te contar e todo esse vazio no meu peito vai se preencher pelo som da tua voz.
             Até breve.