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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Ansiedade: o sentimento de estar preso dentro de si próprio.


"Tudo bem se não entender, mas é preciso se lembrar que a ansiedade não tem um rosto, na maioria das vezes é imperceptível. A ansiedade não é um jogo, você não decide quando tê-la e infelizmente, não é possível desligá-la."

O sentimento de estar preso no mundo caótico que existe dentro de você mesmo.  Aquele mundo onde a aflição predomina além de qualquer outro sentimento ou ambição.  O mundo em que todos os dias são vividos como era vivida a noite pré-passeio escolar. O mundo onde você tenta dizer e não consegue. Onde todas as tentativas de explicar o porquê de estar ofegante são em vão.
               A ansiedade é inexplicável, mas talvez falar dela seja a melhor forma de fugir do aperto que traz tê-la diariamente te colocando contra a parede ao ver que já se passou outra noite e você não conseguiu dormir.
                 
                Ao acordar, sente-se preocupação. E angústia. De casa até o ponto de ônibus, o sentimento foi de medo, como se a qualquer momento algo de muito ruim fosse acontecer e de qualquer forma, ele não esperava estar preparado pra isso.
                No trabalho, ás vezes tinha que parar. Leu em algum site que era importante respirar fundo dez vezes, prestando atenção em cada circulação de oxigênio. Às vezes não funcionava.
                Era prejudicado. Na reunião seus pés não paravam de balançar e no mesmo dia se pegara roendo as unhas de novo. Sempre pediam pra repetir o que falava. Era rápido demais.
                E naquela noite não conseguiu dormir, e suas mãos tremeram de novo. Taquicardia de novo. Chegou a levantar assustado, como se não conseguisse respirar. Ele estava respirando a um segundo atrás, mas agora seu corpo começara a formigar. Inspira, respira, inspira, respira, inspira, respira.
                E na manhã seguinte, mais uma reunião. O café não fazia efeito. Sente o coração bater muito forte, começa a suar frio e é difícil respirar. É tomado por sentimentos de medo e confusão mental.
                Suas olheiras estavam piores. Tinha prova na faculdade á noite e não estudara. E tinha outra reunião amanhã às 10h, mas ainda não havia preparado seus relatórios para apresentar e a reunião era só amanhã, mas ele não tinha tempo, pois tinha prova na faculdade e ele não conseguiu estudar. Mas acabou tendo a noite inteira, não conseguiu dormir.
 Na manhã seguinte, estava ofegante. E suas olheiras estavam piores. E assim seguiam-se dias. Mo mesmo cotidiano eterno, tão diferente e ao mesmo tempo tão igual.

                Não é brincadeira, muito menos sentimentalismo. É uma dor real e assemelha-se com algo incurável, uma aflição que parece não ter fim. Um buraco sem saída seria pouco, se torna a parte mais agonizante da rotina, uma parte que pesa e se torna concreta.
                 Não diga pro ansioso superar, não diga que ele precisa aprender a se controlar, não diga que é só uma fase e que logo passa. Tudo bem se não entender, mas é preciso se lembrar que a ansiedade não tem um rosto, na maioria das vezes é imperceptível. A ansiedade não é um jogo, você não decide quando tê-la e infelizmente, não é possível desligá-la.




Foto por Joy Katie Crawford

terça-feira, 25 de outubro de 2016

A angustiante rotina de quem já perdeu alguém



"A saudade é como um cisco no olho impossível de ser tirado. Como aquela etiqueta daquela calça nova impossível de ser arrancada."

No dia em que recebi aquela ligação. No dia em que me deram aquela notícia. No dia que me disseram que você partiu. Aquele dia, eu juro, senti uma parte de mim indo embora junto com você. E senti uma parte invadindo minha vida da forma mais bruta possível.
Não foi fácil aceitar sua partida, muito menos entender. Sempre acreditei que Deus levasse as pessoas mais bondosas primeiro, mas esperava que ele fosse piedoso comigo.
Nos primeiros dias achei que as lágrimas fossem eternas. Tornaram-se parte do meu cotidiano. Tive uma semana em casa, não precisei ir trabalhar, nem estudar. Mas foi duro. A verdade me espancava, a dor era tangível, mas a ficha não caía.
Senti vontade de te ligar, e te contar as coisas. Escutar sua risada rindo das minhas histórias. Senti vontade de te abraçar, e imaginei como seria nosso abraço.
Passei dias e noites imaginando nosso abraço. Seria um daqueles abraços apertados, cheios de saudade, em que não há mais nem um milímetro de distância entre os corpos, mas a alma está ainda mais perto. E o coração já é um só.
Eu senti muita vontade de olhar nos seus olhos. De vê-los brilhando quase sempre. De fazê-los brilhar quando o sempre não funcionava.
Conversava com você como se ainda estivesse aqui, pedia conselhos e perguntava como tinha sido o seu dia. Mas quando eu olhava pro lado e não te encontrava, quando minhas perguntas já não tinham respostas, a minha mão tremia e toda dor voltava.
Foi terrível ter que ir à sua casa depois daquele dia. Pensei que meu estoque de lágrimas tinha acabado até ter que dobrar suas roupas. Eu tocava cada peça como se ainda fosse parte de você. Algumas ainda tinham o seu cheiro e aquelas eu decidi guardar.
E guardei sua coleção de filmes de terror, aqueles que eu mais sentia medo. E tomei a liberdade de assisti-los de novo. Mas dessa vez sem a sua voz me contando o que estava prestes a acontecer.
Dessa vez nem levei susto. Nem sequer prestei atenção.
Fui a sua missa de sétimo dia. Era uma missa comum, mas nessa eles tinham citado seu nome. Rezavam pra que sua alma subisse aos céus e eu repetia que sua alma já era o próprio céu desde que você estava aqui. Os anjos devem ter adorado te conhecer.
E eu queria. Queria que você estivesse aqui pra ouvir aquela música comigo.
Queria viver de novo aquele dia contigo, qualquer dia contigo. Queria ter a oportunidade de te dizer, mais uma vez, que eu amei, amo e sempre vou amar você.
Hoje, eu levo uma vida normal. É o que acontece com aqueles que ficam, né? Permito-me sorrir e te homenagear com as flores mais cheirosas em dias especiais. Tenho uma foto sua no meu guarda-roupa, carrego comigo as lembranças mais bonitas tuas. Falo pra todos o quanto você foi incrível.
Mas a saudade é como um cisco no olho impossível de ser tirado. Como aquela etiqueta daquela calça nova impossível de ser arrancada.
A saudade incomoda, mas faz parte de mim. Gostaria de dizer que já parou de doer, mas a dor é igual. Não muda. E não conta pra ninguém, às vezes ainda vou dormir em meio às lágrimas imaginando que a qualquer momento você bata na minha porta pra me acalmar.
Entre toda a falta que você me faz, te carrego comigo. Você não foi embora de dentro de mim, pelo contrário, se faz presente. Sinto-te perto e sei que estaremos perto um dia.
E então valerá a pena, pois haverão mais histórias pra te contar e todo esse vazio no meu peito vai se preencher pelo som da tua voz.
             Até breve.